segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Resenha de Stolen (Raptada): Carta ao meu sequestrador







Título: Stolen (Raptada): Carta ao meu sequestrador
Autor(a): Lucy Christopher
Ano: 2012
Páginas: 368
sinopse:
Gemma é uma adolescente normal esperando para pegar um voo no aeroporto de Bangkok com seus pais. Ao se afastar, conhece o charmoso e envolvente Ty, e nem imagina quais são suas reais intenções… Ele lhe oferece um café em que coloca algum tipo de droga. Confusa, ela é sequestrada e arrastada para o meio do deserto australiano. Ele a rouba para si, depois de anos a observando, e ainda espera que ela o ame. Os dias se passam e eles têm apenas um ao outro na imensidão vazia e escaldante do deserto, e Gemma começa a entender e conhecer Ty. É aí que os limites entre inimizade e compaixão vão ficando cada vez mais tênues…


Stolen é o maravilhoso romance de estréia da autora Lucy Christopher, publicado pelo Brasil pela Editora ID,  e que trata de assuntos como sequestro, cárcere privado e a Síndrome de Estocolmo.

Síndrome de Estocolmo: As vítimas começam por identificar-se emocionalmente com os sequestradores, a princípio como mecanismo de defesa, por medo de retaliação e/ou violência. Pequenos gestos gentis por parte dos captores são frequentemente amplificados porque, do ponto de vista do refém é muito difícil, senão impossível, ter uma visão clara da realidade nessas circunstâncias e conseguir mensurar o perigo real. As tentativas de libertação, são, por esse motivo, vistas como uma ameaça, porque o refém pode correr o risco de ser magoado.

Gemma está no aeroporto de Bangkok, com os pais, quando após discutir com a mãe por causa do top que estava usado, vai comprar um café. Acontece que ela se dá conta de que esqueceu o dinheiro, e de repente um lindo desconhecido se oferece para pagar. Ty, o lindo desconhecido¨, coloca uma droga na bebida de Gemma e a leva para o deserto australiano, longe de toda e qualquer civiização.

Ty sequestrou Gemma por querer a sua companhia e por acreditar que os pais dela, que são  bastante ocupados por causa do trabalho, não davam a atenção que ela merecia, e essa foi a maneira que ele encontrou para salvá-la

O livro é uma verdadeira montanha-russa de sentimentos, onde ódio e amor se confudem, se colidem. Ao mesmo tempo em que Gemma odeia Ty pelo que ele fez, ela começa a se afeiçoar a ele, a se preocupar om ele. Ao mesmo tempo em que ela se preocupa com ele, ela deseja poder se libertar. Durante todo a narrativa esses sentimentos ambíguos estao presentes.
Logo no começo do livro me encantei com a escrita de Lucy Christopher, ela descreve a paisagem de forma tão detalhada, mostrando um vasto conhecimento sobre o cenário, explicando muitas coisas sobre a vegetação, animais, clima e etc. E, no final algumas questões surgiram: “O que aconteceu com Ty?”, “Será que Gemma realmente estava sob influência da síndrome de Estocolmo?”, “Ty estava falando a verdade o tempo todo?” e “Ty era louco ou sensato?”.
A interpretação do enredo depende muito de cada leitor,  porque a autora sempre apresentava uma rota bifurcada.
”- É engraçado, não é? – Você disse baixinho – Assim como você olha para cima e vê uma cidade e eu olho para Londres e vejo uma paisagem” (pág. 286)
A primeira questão que gostaria de decorrer um pouco, pelo menos para tentar expor o porquê de tantas dúvidas, é sobre Ty:
- o rapaz parece ter sérios problemas psicológicos por causa de sua infância e adolescência sofrida, assim, tenta desesperadamente encontrar conforto no deserto, onde não há nada nem ninguém, e em Gemma (ao decorrer do livro será explicado o porquê de o sequestro não poder ter acontecido com qualquer outra pessoa). E, como a própria narradora descreve, ele tem grandes variações de temperamento, podendo ser indicativo de insanidade mental;
“Era só que… você se parecia comigo quando eu era mais novo. Você parecia não se enquadrar” (pág. 133)
- mas também, parece que, assim como o próprio Ty diz, Gemma não foi sequestrada, e sim salva. Bom… vou desenvolver um pouco mais essa última hipótese, já que é muito mais fácil acreditarmos que ele é louco.
“Você me resgataria agora se fosse o Super-Homem – eu disse em voz baixa.
- Quem disse que eu não fiz isso?
- Qualquer um saberia que você não fez isso.
- Então esse qualquer um está olhando as coisas de forma errada. – Você ergueu um pouco o copo, apoiando-se nos cotovelos. – De qualquer forma, eu não posso sequestar você e, ao mesmo tempo, resgatar você” (pág. 163)
”- Corria atrás de dinheiro, fingia ser outra pessoa para conseguir dinheiro. Quanto mais tempo eu fazia isso, mais fácil ia ficando… mas essa é a armadilha, percebe? Quando o caminho para  a morte se torna fácil, você sabe que está afundando cada vez mais e está para se tornar um cadáver” (pág. 205)
“- Em qualquer meio ambiente existem riscos, eu acho – você murmurou. – É sempre a mesma realidade: venenos,  ferimentos, doenças… o que muda são as causas. Na cidade essas coisas são causadas por pessoas e, aqui, pela terra” (pág. 251)
Ainda seguindo a linha de raciocínio de que o sequestrador não era de fato uma má pessoa: Ty mostra um respeito e amor muito grande pelas terras, sendo fácil acreditarmos que seus atos foram de coração, ele realmente queria o melhor para Gemma, queria lhe mostrar um novo mundo. A princípio, pode parecer uma certa obsessão devido às suas necessidades, todavia quem gosta da natureza, como eu, sabe o poder que ela tem, é algo mágico, como se pudéssemos conversar diretamente com quem a criou.
“Você abriu a mão e me mostrou a areia. – Olhe, juro sobre isto que não vou fazer nada. Que tal?
- Jurar sobre um pouco de areia, isso não vale nada.
- Essa areia é mais velha e verdadeira que qualquer coisa… com certeza é a melhor coisa para se fazer um juramento” (pág. 146)
Outra questão que a autora deixa dois caminhos é em relação à síndrome. Não há como saber se a garota se apaixonou pelo rapaz ou se o medo fez com que desenvolvesse essa forma de pensar.
- desde o primeiro contato de Gemma com Ty, no aeroporto, a garota sente uma atração por sua aparência e gentileza e, convenhamos, há uma linha tênue entre a atração e a paixão, mas ela narra que sente medo e raiva dele (talvez seja pelo desconhecido ou… causados pelos preceitos de certo e errado imposto pela sociedade).
- Gemma começa a mostrar mais afeição por Ty depois de perceber que não consegue sobreviver sozinha, não há nada além dela e dele, só escapará se ele ajudar (isso se enquadra na síndrome de Estocolmo), mas também, ao mesmo momento que Ty salva sua vida e a trata com carinho e dedicação (então, pode ser um sentimento verdadeiro).
 ”Talvez se tivéssemos nos encontrado como pessoas normais… quem sabe as coisas pudessem ter sido diferentes” (pág 363)
”- É que… para sobreviver aqui você tem que amar esta terra. Isso leva tempo. Por enquanto, você precisa de mim.
- Eu sei” (pág. 258)

Comentário não muito importante: em oposição aos sentimentos apresentados pela narradora que coincidem aos sintomas da síndrome (ela sente medo, raiva, tenta fugir e sabe que precisa do rapaz para sobreviver), há uma cena que achei bastante interessante: no primeiro momento Gemma retira uma formiga que sobe em seu corpo, depois de um tempo ela deixa o inseto andar livremente, o que leva a crer na mudança dos sentimentos, a protagonista passa a aceitar (talvez até a amar) a natureza, podendo estender esse sentimento até Ty.
”- As pessoas amam as coisas com as quais estão acostumadas, eu acho.
- Não. – Você abanou a cabeça. – As pessoas deveriam amar as coisas que precisam ser amadas. Assim elas podem salvar essas coisas” (pág. 265)
Por último, algo que não ajuda a chegar a qualquer conclusão foi o tipo de narrativa. Apenas conhecemos os fatos pelo ponto de vista de Gemma, quem garante que ela não escreveu sob influência da síndrome? E, tudo é escrito no passado, APÓS o fato, podendo, ela, estar escondendo algo por conta de seus sentimentos (reais ou não).
Depois de todo esse blá blá blá, que eu precisava muito escrever, vou encerrar retomando a minha opinião de que esse livro é muiiiito bom, vale a pena ler!
“- Além disso, temos que reconhecer, você me sequestrou. Mas salvou a minha vida também. E entre uma coisa e outra você me mostrou um lugar diferente e lindo, que eu não conseguia tirar da cabeça. Assim como não consigo tirar você. Você esta tão incorporado ao meu cérebro quanto meus vasos sanguíneos” (pág. 357)

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